Ora, alguns de vocês devem estar se perguntando... puxa, o que são esses Peanuts?? Com certeza você já deve ter visto alguns deles por ai, na TV, nos materiais escolares, nos jornais, nos livros, nos brinquedos, na mídia, e também nos quadrinhos.. bom, pra quem não lembra dos Peanuts, Charlie Brown e Snoopy são os mais conhecidos dentre eles. Olha a turminha aqui ao lado.
Eu gostaria muito de contar detalhadamente a vocês como foi a fascinante história de nascimento dos Peanuts. Nome aliás que Schulz não gostou muito, significa amendoins em português, mas que foi entitulado assim pelo jornal de Nova Iorque em 2 de outubro de 1950. É uma história que começa em St. Paul, cidade natal de Schulz, e que passa por várias situações, desde eventos relacionados à II Guerra Mundial, até a rejeição das tirinhas de Schulz pelo jornal de sua própria cidade. Engana-se quem pensa que isso pode ter sido ruim. Talvez se não tivesse acontecido isso jamais teríamos conhecido uma obra tão brilhante.
No início de Peanuts, Schulz explorava muito a inocência dos personagens, todas as situações eram recorrentes da infância, como as discussões entre meninos e meninas, namoricos, amizades, brincadeiras como as do bolinho de lama e com o cachorrinho Snoopy, que ainda não tinha uma personalidade tão complexa como a que conhecemos hoje. Em cima desse caso do Snoopy é que podemos perceber como Schulz desenvolveu a personalidade de seus personagens, o Charlie Brown por exemplo, sempre foi um garotinho camarada, mas muitas vezes ele se via expressando sentimentos de solidão, de desventura e de falta de auto-confiança, pode se dizer que Schulz demonstrou muitas vezes em Charlie Brown, características que sempre calcaram sua infância.
A figura acima é a primeira tira de Peanuts que foi lançada em 02 de outubro de 1950, veja como o estilo do desenho era um pouco diferente. Shermy, ao lado de Patty, diz:
-Bem! Aí vem o bom e velho Charlie Brown!
-O bom e velho Charlie Brown... sim, senhor!
-Bom e velho Charlie Brown...
-Como eu odeio ele!
No começo de Peanuts as histórias estavam em torno dos personagens, Charlie Brown, Snoopy, Patty Pimentinha e o Shermy. Logo depois surgiram a Violeta, o Schroeder, a Lucy e o Linnus. Schulz tinha uma habilidade incrível de abordar temas de aspectos sociais em suas tirinhas com uma sutileza inigualável. Temas como a igualdade racial e de gênero eram amplamente exploradas por Schulz, numa época em que eram tidas como tabus. Como por exemplo, a presença de Franklin, um personagem negro, numa escola de integração racial. O fato do time de beisebol de Charlie Brown ter possuido três garotas muito melhores que o próprio Charlie (que era uma negação). Schulz também usava suas tiras para satirizar acontecimentos importantes que estavam marcando aquela época, como por exemplo a Guerra do Vietnã. Também fez referências de como os números estão tomando as identidades das pessoas, quando apresentou o personagem chamado 5, com os irmãos 3 e 4, onde seu pai mudou o nome da família para CEP.
Outro ponto interessante de Peanuts é o desenvolvimento dos personagens, o Snoopy era um cachorrinho normal no começo, porém no desenrolar dos anos, o personagem foi sendo enriquecido com a capacidade de entender as crianças, de verbalizar seus pensamentos, de ter conseguir andar em duas patas, cair no mundo da imaginação, filosofar, ler livros, praticar esportes e até usar uma máquina de datilografia. Outros personagens principais como Lucy, Schroeder e Linnus foram introduzidos nas tirinhas ainda como bebês, e conforme o tempo, foram adquirindo suas personalidades. Lucy, a garota de temperamento forte, mandona, por vezes cruel com suas afirmações exageradas, insegura com a sua beleza e apaixonada por Schroeder. Schroeder, por sua vez, o garoto talentoso na arte da música, tendo Beethoven como o seu maior ídolo, fato que por isso ele sempre rejeita o amor de Lucy, pois Beethoven era um homem solitário. Linnus é um garoto com inteligencia notável, em suas tiras era comum em suas falas ter referências filosóficas ou teológicas, muitas vezes citando o evangelho. Esse teor de sabedoria se mistura muitas vezes com sua imaginação, tanto que uma de suas mais famosas teorias é a da Grande Abóbora (uma espécie de Papai Noel do Halloween), que na noite do Dia das Bruxas escolhe uma horta de abóboras para aparecer e entregar presentes para todas as crianças boas. O seu cobertor da segurança também é um quesito a parte, Linnus se prende emocionalmente à proteção que o cobertor paradoxalmente lhe proporciona, levando até a manifestar sintomas como tontura e fraqueza, quando as outras crianças o tomam.
Peanuts é um clássico dos quadrinhos, teve grande força na TV, mas a marcante característica dessa obra é contada, criada e recriada todas as vezes que lemos e relemos as suas milhares de tirinhas nos jornais e nos quadrinhos. São crianças engraçadinhas, vivem situações peculiares, e muitas vezes pensam as vezes como doutores da sabedoria. Isso não quer dizer que a vida como ela é na infância parece deturpada nesses quadrinhos, muito pelo contrário, nós que deturpamos a imagem do ser infantil, tratamos apenas como um ser inocente sem o poder do saber, mas esquecemos dos tempos de que brincar não era apenas uma ação motora, e sim um movimento sincrônico de fantasia, de imaginação, de um saber que não está ligado com a exatidão do sistema, mas daquele que se soma àquela inocência perfeita de se viver num mundo feliz.